O Projeto

Cooperação - Arte - Sentimento - Ação


O projeto “Academia de Crianças“ trata-se de uma experiência inspirada nas escolas libertárias e democráticas, em especial em Summerhill (A.S.Neil) e Casa dos Órfãos (Janus Korczak), na Escola da Ponte em Portugal, na Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire e na Pedagogia Espírita.
O nome escolhido, “Academia de Crianças”, é uma referência à Academia, escola filosófica de Platão, e também porque seu significado está contido nas práticas da proposta: sociedade de caráter científico, literário ou artístico.
Na Academia de Crianças, a criança será tratada levando em conta o seu referencial e não o do adulto.
Ao estimular o binômio autonomia/desenvolvimento de potencialidades, de forma afetiva,  ativa e cooperativa, o projeto pretende garantir às crianças e adolescentes envolvidos a possibilidade de crescimento pessoal, uma vez que deverá ser preparada para a vida adulta como sujeito capaz de levar uma vida com poder de decisão, independência, autonomia, e com plenas capacidades desenvolvidas (intelectual, emocional, espiritual e social).
Também será possível provar a importância da Arte no desenvolvimento e equilíbrio das emoções e sentimentos humanos, como diversos estudos têm mostrado. Através da Arte-educação é possível desenvolver/restabelecer a sensibilidade das crianças, auxiliando-a na expressão de seus sentimentos. [1]
Por fim, o projeto leva em conta, também, o enriquecimento dos valores já inatos na criança, através de buscas e discussões filosóficas, construídas em conjunto.

Introdução: A Associação Espírita José Herculano Pires foi fundada com o objetivo de criar uma escola espírita em Jundiaí, fundamentada na pedagogia espírita proposta por José Herculano Pires, e sedimentada por Dora Incontri. Inspira-se nos exemplos das escolas fundadas por Eurípedes Barsanulfo e Anália Franco.
Tem também, como objetivo, contribuir:
  • para uma nova consciência sobre a importância da Educação para o mundo;
  • na divulgação e prática da Pedagogia Espírita;
  • promover um progressivo aumento na qualidade da arte de educar na cidade e região.
  • para o pleno desenvolvimento do indivíduo, na plenitude de seus valores fundamentais, notadamente no campo da educação, instrução, cultura e religião
  • com uma estrutura comunitária em que se preserve o espírito de fraternidade, cooperação, igualdade, respeito e amor ao próximo.
Além de:
  •  Promover e contribuir com as praticas de inclusão social de crianças em Jundiaí – SP, propiciando, através de uma educação integral, que utiliza da exploração do universo da arte e de todas as demais possibilidades de educar, como móvel para a expansão do autoconhecimento e possibilidade de transformação social desse indivíduo.
  •  Promover, em parcerias com outras instituições, oficinas e workshops, com atividades educacionais, sociais e culturais transformadoras nos abrigos, núcleos de medidas sócio-educativas: Liberdade Assistida, Semiliberdade e Regime de Internação.
  • Suscitar o interesse e a cooperatividade nos projetos por meio da participação ativa e democrática dos agentes (associados, educadores, crianças, pais), tanto nas escolhas dos temas como nas diretrizes que irão nortear os trabalhos;
O projeto “Academia de Crianças” surgiu a partir dos grupos de estudos pedagógicos da AEJHP, tendo foco na arte como indutora do processo ensino/ aprendizagem, trabalhando os sentimentos, a autonomia, a cidadania e a cooperação de uma forma ativa.
Tem como princípio básico o interesse das crianças, por isso, as atividades desenvolvidas têm início em uma assembléia de crianças, onde, fazendo uso do seu voto, escolhem os caminhos que irão seguir num exercício de cidadania e autonomia.
A partir dessa temática se desenvolve (aluno/monitor) um projeto para ser realizado em um tempo determinado, com diversas atividades: teatro, artes, artesanato, música, dança, culinária, filosofia, conhecimentos gerais, inter-religiosidade, jogos, horta, projetos ambientais, atividades de circo e outras, culminando num produto que pode ser um jornal, uma revista, um espetáculo ou o que a Assembléia decidir.


[1] “As bases estéticas da Pedagogia Espírita correspondem à exigência de esclarecimento da função da Arte no aprimoramento da sensibilidade, de sua contribuição para o equilíbrio psíquico e desenvolvimento moral.” J.H. Pires in “Pedagogia Espírita”.

Objetivos: Espaço livre e democrático que tem por objetivo despertar as crianças para o aprendizado de saberes importantes para a vida, através da arte e de projetos relacionados.
Despertar a curiosidade para a busca do autoconhecimento - através da arte, das dinâmicas e da ação, criando um clima propício para ir da curiosidade ingênua à epistemológica, a que se refere Paulo Freire em Pedagogia da Autonomia;
Incentivar a autonomia, a ética, a cooperação, o respeito em todas as práticas vivenciadas no dia-a-dia.
A partir da proposta de trabalhar com as crianças e adolescentes, outras abordagens foram possibilitadas, com pais e membros da comunidade.
Metodologia: O projeto temático se inicia com a escolha do tema em Assembléia. Esta, por sua vez, vota um regimento interno básico. Indicação de candidatos à presidente e secretário da Assembléia pelo período de um mês, seguido de votação. Criação de uma caixa de reclamações e sugestões, onde serão colocados todos os assuntos que serão tratados nas Assembléias semanais. Definição das atividades que serão trabalhadas, confecção do cronograma e previsão de material.
Cada projeto possui uma dinâmica própria, constituindo um formato temático construído tanto pelas crianças como pelos educadores e norteado a partir de pesquisas, oficinas e dinâmicas. Ao final de cada projeto, após as atividades de reflexão em assembléia outro será discutido e colocado em execução.
 Os educadores se utilizam da música, dança, artes visuais, teatro, educação do movimento, discussões filosóficas e conhecimentos gerais para, de forma interdisciplinar e integrada, trabalhar o tema de cada projeto.
Portanto, dentro de sua área de atuação o educador buscará dinâmicas e ações que se integrem ao tema do projeto e ao mesmo tempo ao objetivo geral do trabalho (descrito acima), propiciando o desenvolvimento das habilidades propostas.
A integração de diversas áreas do conhecimento permite potencializar o desenvolvimento integral do Ser, ou, na proposta de Pestalozzi, educar as “mãos, cabeça e coração”.
Assim é que, nas aulas de filosofia e conhecimentos gerais há abordagens de valores éticos, discussões filosóficas, inter-religiosidade, e conquistas de informações direcionadas ao intelecto (cabeça). Com a música, teatro[1] e artes visuais busca-se a expressão e desenvolvimento das emoções, e dos sentimentos (predominantemente o coração), e toda produção está baseada na construção pela própria criança - de livros, poesias, cenários, figurinos, artes visuais, hortas, ajuda na organização do local, dos eventos, oficinas (mãos – educação ativa).  
São trabalhados conceitos sobre como conviver em grupo, trabalhando em equipe em direção a um objetivo comum.
O trabalho individual será pautado na relação de ajuda – entre educadores e educando, e entre os educandos entre si (cooperação).
O educador deve fazer-se presente na vida do educando, sendo isto fundamental na ação educativa dirigida à criança e ao adolescente.
Os monitores e especialistas tem como atribuição: mediar e orientar esses educandos na busca do conhecimento; e os educandos, a atribuição de: discutir, pesquisar, opinar, analisar, decidir, projetar, escolher, priorizar, defender, relacionar e buscar.
A presença é o conceito central, o instrumento chave e o objetivo maior desta pedagogia. As atitudes construtivas que são válidas para o processo de ajuda como um todo, estão relacionadas às habilidades interpessoais (capacidade de entender as intenções dos outros) de pessoas capazes de influenciar. Aqui, a frase de J. Herculano Pires resume o método: “A educação, na sua verdadeira essência é um ato de amor pelo qual as consciências maduras agem sobre as imaturas para elevá-las ao seu nível”. Ainda segundo Herculano “o educador passará a ver o aluno com olhos radioscópicos. Ve-lo-á por dentro e não apenas por fora”, vale dizer, enxergar a alma do outro, suas emoções, suas necessidades; trata-se de requisito para compreender o que e como desenvolver suas potencialidades. [2]
Acredita-se que para educar tanto o intelecto quanto o sentimento é preciso vivenciar situações que exemplifiquem e sedimentem o aprendizado através da prática (educação através da ação).
No final de cada projeto temático, a culminância será dada pela apresentação do projeto final em dia específico, para os pais e comunidade.
Reunião Pedagógica semanal avaliação/desenvolvimento da criança e do projeto. Com isto é possível corrigir atuações e intervir positivamente em favor de cada educando.
Ao final de cada ano a expectativa é que o educando possa ter desenvolvido, cada qual dentro de seu ritmo próprio, habilidades intelectuais, físicas, artísticas, espirituais, emocionais e sociais.
A presença de um psicólogo: o olhar diferenciado desse profissional assume especial importância na abordagem e compreensão do conteúdo psíquico de cada criança (e também dos educadores), podendo detectar eventuais psicopatias, ou dinâmicas disfuncionais de relacionamentos; fazer diagnóstico psicológico e sugerir técnicas terapêuticas individuais e de grupo, assim contribuindo para o trabalho/desenvolvimento/cura das emoções e do psiquismo de todos os envolvidos.[3] Acredita-se que esta importante ciência deva dar as mãos definitivamente para a Educação, devendo se fazer presente em todos os projetos educacionais. [4] Com efeito, na medida em que o Ser Integral é dotado de “um complexo psíquico”, que lhe determina fortemente os comportamentos, e que os profissionais da área de educação não recebem capacitação para a detecção e trabalho desse psiquismo, não se pode prescindir da atuação dos psicólogos, enquanto essa capacitação não integre as faculdades de pedagogia.

Desenvolvimento: Cada turma participa das atividades em dois dias por semana durante 3 horas por dia ou 6 horas semanais (realidade existente hoje). São atendidas crianças e adolescente entre 7 a 12 anos (ou mais). As turmas não passarão de 20 educandos por período (sendo 10 bolsistas e 10 pagantes). Para melhor aproveitamento e individualização da aprendizagem, estas turmas podem ser divididas em grupos. Cada educador tem, em média 1 hora e 15 minutos com cada turma/grupo. Um intervalo e um lanche são oferecidos.
A criança é estimulada a cuidar do espaço e de seu ambiente, de forma cooperativa e responsável, visando o bem-comum.
Projetos paralelos podem ser introduzidos, havendo presença de voluntários, tais como: eletricidade, técnicas de circo, reforço na alfabetização, culinária infantil, consertos gerais, etc..
Uma sociedade democrática funda-se em relações de reciprocidade e não de subalternidade. Para tanto, entendemos que o educando, ao planejar suas atividades junto ao educador, estabeleça prévia e efetivamente o quer aprender, de modo que o educador se preocupe muito mais com o como do que com o que.
Com tal prática se pretende atingir, ao máximo, a participação da criança segundo seu interesse, de modo que, se o projeto original não lhe atendeu o interesse, ela pode encontrar em outro projeto um estímulo a suas expectativas. Isto evita a dispersão durante as dinâmicas.
Além dos temas cognitivos dos projetos, há práticas que estimulam diversas habilidades, como: regular os próprios sentimentos, compreender emoções alheias, ser capaz de trabalhar em grupo e sentir empatia pelos outros. Vejamos:
Empatia: Capacidade de se colocar no lugar do outro, de modo a sentir o que se sentiria caso se estivesse no seu lugar;
Aceitação incondicional ou respeito: capacidade de acolher o outro integralmente, sem que lhe sejam colocadas quaisquer condições e sem julgá-lo pelo que ele é, sente, pensa, fala ou faz;
Congruência: Capacidade de ser real, de se mostrar ao outro de maneira autêntica e genuína, expressando através de suas palavras ou atos seus verdadeiros sentimentos;
Confrontação: Capacidade de perceber e comunicar ao outro, certas discrepâncias ou incoerências em seu comportamento - distância entre o que se fala e o que se faz, entre o que se fala e o que se é na realidade, entre o que se fala e o que mostra;
Imediaticidade: Capacidade de trabalhar a própria relação educador-educando, abordando os sentimentos imediatos que um experimenta pelo outro durante o processo.
Concreticidade: Capacidade de decodificar a experiência do outro em elementos específicos, objetivos e concretos para que ele possa compreender sua experiência, às vezes confusa.

Embasado nesta metodologia, o trabalho visa mobilizar e integrar os esforços da equipe em tornar o projeto, como um todo, num contexto facilitador do crescimento dessas crianças e adolescentes, no sentido da superação de seus impasses e dificuldades, por intermédio de relações que lhe possibilitem a aprendizagem significativa de novas atitudes e habilidades.
O projeto leva em conta, também, o enriquecimento dos valores, conteúdos e habilidades já inatos na criança, através de buscas e discussões filosóficas, construídas em conjunto, abordando temas como justiça, igualdade, fraternidade, seu atuar no mundo, etc.
Educação ativa - uma boa educação somente se sedimenta quando se coloca a criança diretamente em contato (visual, tátil, auditivo, sensorial) com o objeto do conhecimento que se quer transmitir. Assim, passeios com cunho científico (pesquisar relevo, história local, elementos biológicos, fauna e flora da região, etc.), cultural (museus, teatros, apresentações musicais, locais históricos), social (asilos, sociedade de bairros, projetos sociais), serão realizados freqüentemente.
A avaliação da aprendizagem específica ou geral nesta prática deve ser entendida, num primeiro momento, como meio e não como fim.
Entendemos que a avaliação não se dá num vazio conceitual, mas sim dimensionada por um modelo teórico de mundo e de educação, traduzido em prática educacional.
Uma vez que o projeto está norteado por princípios da Pedagogia Espírita, a função diagnóstica constitui-se num momento dialético entre educador e educando num processo de avançar ao desenvolvimento da ação, do crescimento para a autonomia, do crescimento para a competência.  Deverá ser instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e a identificação dos caminhos a serem alcançados.
O educador deve estar afeito também à práxis, o que significa estar, a todo o momento, repensando sua prática. Cada passo de sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explícita do que está fazendo e para onde possivelmente está encaminhando os resultados de sua ação. Para tanto, deve, repita-se, conhecer profundamente a criança e o adolescente, e seu contexto familiar e social.
Por fim, todos os agentes: educadores, psicólogo e assistente social (e também pais), estarão observando o comportamento dos educandos nas assembléias, participação nas oficinas, relacionamento interpessoal, impacto no desempenho escolar e relacionamento familiar, avanços ou regressos em sua comunicação e expressão, entre outros, buscando, na avaliação dos resultados, a (re)construção das práticas psico-pedagógicas.

Na consecução das atividades, outras áreas e práticas foram sendo desenvolvidas, tais como:
Assistente Social: o assistente poderá realizar, juntamente com o psicólogo, amplo diagnóstico da família, principalmente aquelas em situação de risco, permitindo estimulá-las a buscas de soluções para suas problemáticas, levando-os a conhecer, quando o caso, os equipamentos públicos disponíveis. Auxílio na detecção dos problemas sociais, e busca da inclusão social. A realização de diversas oficinas permitirá aquisição de diversas habilidades, estimulando também o adulto em sua autonomia. Contato com a realidade escolar da criança, e seu envolvimento com os agentes da rede oficial de ensino, e seu grupo de convívio social.


[1] “Uma pesquisa publicada em 2008por um consórcio de 7 grandes universidades americanas mostrou algo que parecia pouco provável: música e teatro aumentam a capacidade de concentração e geram ganhos significativos para a memória” Texto extraído da Revista Superinteressante de setembro 2008, artigo “Inteligência”.
[2]  “Para educar,... precisamos conhecer o mais profundamente possível a natureza do educando” J.H.P. in “Pedagogia Espírita”.
[3] “Não se pode desprezar, no campo dos estudos pedagógicos, esse dado fundamental sobre as estruturas psíquicas e mentais do educando” idem JHP.
[4] “Sem conhecermos o educando à luz do Espiritismo não podemos proporcionar-lhe a Educação Espírita. Suas percepções extra-sensoriais, suas faculdades e sensibilidades mediúnicas, suas orientações conscienciais provindas do passado são elementos importantes para o seu reajustamento psicológico na presente existência e sua reorientação educativa. Daí a necessidade de estudos para a elaboração da Psicologia Evolutiva Espírita, abrangendo a criança e o adolescente.” Idem JHP.